[EcoDebate] Durante
milênios, a água foi bem comum e direito
fundamental a todos os seres vivos… até que o
modelo consumista e predador da civilização
contemporânea decidiu que apenas os que podem
pagar têm acesso à água. De bem comum a água
tornou-se commodity e instrumento de domínio:
quem controla nascentes e mananciais controla a
vida!
A escalada da privatização das fontes de água
em escala mundial é uma das questões mais
cruciais a pesar sobre o destino da humanidade.
Os colossais interesses privados – com apoio
explícito ou velado dos governantes de plantão –
já se apropriam “legalmente” dos estoques de
água doce via projetos estratégicos
cristalizados em barragens, transposições
duvidosas, redirecionamentos de bacias
hidrográficas, construção de hidrovias,
privatização de mananciais…
Não bastasse a cobiça do “mercado” a agudizar
a exclusão social, as águas do planeta também
são vítimas de degradação qualitativa via
despejos de rejeitos não tratados que
comprometem sua potabilidade. A insegurança
hídrica é uma realidade: 1,2 bilhão de
indivíduos não tem água de qualidade para beber
e 2,5 bilhões são desprovidos de saneamento
básico.
Neste século de hidronegócio e de água
virtual, a seiva da vida também alimenta
fortemente a indústria da corrupção. Como se não
bastasse, já é consenso que grande parte dos
conflitos políticos e sociais no presente e no
futuro próximo deixará de ter como causa o
petróleo e será provocado pelas disputas em
torno da água doce, cujos estoques diminuem
dramaticamente. É tempo de se dar um basta à
exclusão hídrica. A água tem de voltar a ser de
todos.
[Por
Henrique Cortez, do
EcoDebate, com edição de Hélio Carneiro, da
Revista Cidadania & Meio Ambiente, 06/02/2009] |